Análise: Nonato Bandeira, as brigas com Ricardo e a volta ao "jardim dos girassóis"

"A política é a arte de unir inimigos e separar irmãos", diz um velho jargão político, mas que nunca deixa de ser atual. Nesta quinta-feira (19), a população paraibana teve a oportunidade de ver na mesa, sentados, lado a lado, o governador Ricardo Coutinho (PSB) e o vice-prefeito de João Pessoa, Nonato Bandeira (PPS). As feições não demonstravam qualquer constrangimento. Já as palavras trocadas nos discursos eram elogiosas. Uma cena que deixaria em choque qualquer pessoa que depois de alguns meses fora da Paraíba se deparasse com o quadro. Talvez a pergunta dele para alguém mais antenado com o dia a dia da política no Estado fosse: mas eles não são inimigos?

A resposta não poderia ir além de um "eram". Não faz muito tempo que chegar perto de Ricardo ou de Nonato e perguntar pelo então ex-aliado era uma oportunidade de ouvir histórias e lamúrias nada elogiosas. Alguns adjetivos, até, acentuados na escala máxima de gravidade. Não custa lembrar o passado para entender como Nonato Bandeira, de barrado no baile socialista e crítico de Coutinho voltou ao status antigo de aliado e conselheiro, apesar de ser cedo para essa conclusão. Tudo pode ser resumido a uma palavra: sobrevivência política. Sobrevivência de um ator que trocou de lado, em 2012, apostou alto, em 2014, mas se descobriu com menos musculatura que o imaginado.

Nonato Bandeira rompeu com Ricardo Coutinho em 2012, quando se aliou ao então prefeito Luciano Agra contra o criador. Sem legenda, já que Ricardo Coutinho apostou em Estela Bezerra para a disputa, Agra apoiou a candidatura de Luciano Cartaxo (então no PT). Nonato Bandeira conduziu a aproximação e, como prêmio, ganhou o espaço de vice na chapa que foi consagrada pelas urnas. A aliança PT-PPS também não durou muito. Pouco tempo depois Nonato foi isolado na gestão. Sem poder de opinar e com alguns aliados do prefeito Luciano Cartaxo acusando o cristão-novo na aliança de "tramar" contra a gestão.

O ápice do desentendimento ocorreu um ano após a posse. Enquanto Cartaxo migrou para o apoio à reeleição de Ricardo Coutinho, tendo Lucélio Cartaxo como candidato ao Senado, Nonato rumou para o apoio ao senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que foi derrotado nas urnas. Sua candidatura a deputado estadual também naufragou. Sem o voo que havia traçado rumo à Assembleia Legislativa, encontrou portas fechadas também na Prefeitura de João Pessoa. O diálogo com Cartaxo já não apontava para a renovação da aliança vitoriosa em 2012. Restou ao pós-comunista, portanto, costurar o retorno para a base socialista. Tinha como único trunfo o rompimento com o atual prefeito.

O apoio a Cida Ramos, pré-candidata do PSB, oficializado nesta quinta, representou por isso a busca de Nonato Bandeira por um novo começo. No discurso de Ricardo Coutinho, ele foi descrito como um aliado fiel e com a lembrança de que não construiu sua gestão na Capital sozinho, indicando que o pós-comunista deu a sua contribuição. Já Nonato fez as críticas sobre Luciano Cartaxo que Cida e Coutinho queriam ouvir e foi todo elogios ao modelo socialista de governo. Com isso, refez o caminho de volta. O que é difícil dizer é que espaço no "jardim dos girassóis" será reservado por Ricardo para Bandeira após o pleito de outubro. Se será o que cabe ao aliado descrito em elogios hoje ou ao adversário achincalhado de dias atrás.

Façam duas apostas.